23 de fevereiro de 2010


Um quarto. Uma cama. O teu jeito e a vontade de ficar para sempre,
em momentos de pura verdade.
Há abraços invisivelmente intermináveis que nos confortam o
pensamento.
São anteriores aos astros e às estrelas, e a todas as danças da lua.
Gostava de me perder na tua alma.


14 de fevereiro de 2010

De vez em quando, aparecem pessoas novas na minha vida.
Surgem de forma diferente e vão-me completando.
Um conjunto de peças que enchem o meu puzzle sempre tão colorido e confuso.

É disso que a vida é feita.

Lábios finos, traços de bonita delicadeza e uma certa manipulação carinhosa.
Tudo num misto de incerteza... et voilá: momento quase perfeito.

Isto porque minha querida, perfeição não é para nós e é aborrecida.

11 de fevereiro de 2010

Murmúrios de um futuro inexistente.

Há males em mim que não vão sarar.

Não sei dizer as profundezas da alma, porque não há luz para ver a escuridão.

Quando já nada importar, quero viver com o mar para lavar o sofrimento em cada onda de maresia. Vazia de venenos e lágrimas num sempre de sonho.



Concurso de Bandas
Esta sexta-feira às 20:30.
Polivalente da ESRP
Recolha de fundos para a causa humanitária do Haiti.
Entrada livre e por convite (pessoas exteriores à comunidade escolar.)

2 de fevereiro de 2010



My only purpose on this life is love.

1 de fevereiro de 2010

Queria gostar de ti, queria que tudo fosse como Alice in Wonderland, ou que com o simples toque dos sapatinhos vermelhos pudesse voltar a casa.

Não é essa a minha verdade, nunca foi, nada é assim tão simples.

No início, não gostava de ti. Não sei porquê, às vezes não vamos com a cara das pessoas, sem motivo aparente. Hoje é diferente.

Conheço-te o toque e o jeito malandro. Recuperas a criança que há em mim da qual não imaginava existência.

É tão bom ser livre,

Amar sem amar e,

Sorrir a chorar.

Tens um cariz próprio, só teu, inocente e puro. Tudo aquilo que eu não tenho e quero ter. A tua essência de criança faz-me cócegas na raiz de aquilo que acreditei ser e não sou.

Mas faço de conta que é bonito, e que tem muitas flores e logo passa. Faço de conta que não tem mal e que está tudo bem, quando estou a ruir por dentro.

Já tive medo, não hoje, não agora. Ainda assim, não quero que conheças a minha sombra, não ias compreender e eu não aguentava mais uma perda.

Sem saberes, fica, fica até sempre ou até amanhã, mas fica, não me deixes no escuro.

(...)

Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

(...)

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer-se dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas é sempre o mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica! Lourosa! Lourosa! Marrazes! Marrazes! Fora o arbitro, gatuno! Qual gatuno, qual caralho!

(...)

Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

(...)

Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

José Mário Branco - FMI